sexta-feira, 22 de julho de 2016

ESCREVA AQUI O QUE ESTÁ PENSANDO...



Eu abro a minha página no facebook e já dou de cara com ela, dizendo sempre a mesma coisa. Não sei se como uma ordem, ou apenas como uma mera sugestão. Sei tão-somente que ela está sempre lá, insistente e até um pouco indiscreta e invasora: “escreva aqui o que está pensando...” Por isso, acredito que já está passando da hora de termos uma conversa séria.
Quero saber, por exemplo, por que devo lhe dizer, com os dedos, o que estou pensando? Por que não me pergunta se estou a fim de conversar com você? Por que você não sugere algo como: “não quero saber o que você está pensando.” Pode até parecer uma postura indelicada da minha parte, mas não me sinto a vontade com essa sua pressão. Além do mais, tem dias que penso tanta coisa que você, janelinha, não comportaria. É bem verdade que também tem aqueles dias nos quais o penso mão consegue ultrapassar a linha da mediocridade. Mas, independente do dia, ou do estado de espírito, não preciso ceder à pressão. Não quero escrever o que estou pensando. Prefiro ficar na minha e guardar o silêncio digital.
Meus dedos, janelinha, não lhe falarão das minhas alegrias, preocupações, esperanças ou qualquer outra coisa que, eventualmente, esteja povoando a minha mente vagante. E sabe por quê? Por uma razão simples. Espero que não se ofenda janelinha, mas reparei que você não tem rosto, não tem face e muito menos tem sentimento. Reparei também que, apesar de insistir para que lhe diga o que estou pensando, você é sempre fria e muito indiferente ao que penso ou sinto. Por mais que lhe fale, sua reação é invariavelmente a mesma: mecânica e impessoal! Por isso, frente à sua insistência inconveniente, guardo o que é parte de mim para mim mesmo. Vou simplesmente continuar nos meus solilóquios. Se bem, janelinha, que o pensador e escritor Santo Agostinho, com quem aprendi a arte do solilóquio, traiu a si mesmo. Ele não resistiu à tentação do papel – “escreva aqui o que você está pensando” - e grafou nele seus solilóquios. Hoje o mundo inteiro sabe o que ele pensava naquela hora. Era até coisa muito boa de se dizer.
Não Janelinha, não vou ceder aos seus apelos ou imperativos, porque você não é uma janela muito sensata. Você não tem muito filtro. O que se diz a você, sussurrando com os dedos, você espalha para o mundo.

Epitácio Rodrigues, 22, 07, 2016.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Confira minha obra publicada no Clube de Autores em

Confira minha obra publicada no Clube de Autores em


Cronista anônimo: e outras crônicas é o título do novo livro de Epitácio Rodrigues, publicado pela editora Clube dos Autores. 
O livro é uma coletânea de crônicas nas quais o autor, um professor de Filosofia, apresenta algumas provocações filosóficas a respeito de situações e vivências do dia a dia, unindo a leveza e a linguagem acessível própria do gênero da crônicas às indagações que são muito características do pensar filosófico, levando o leitor uma nova forma de perceber o cotidiano.

Participação em Coletâneas

É isso mesmo O ensaio Basta só opinar sobre tudo, é isso mesmo!? , de Epitácio Rodrigues foi aprovado para compor a Coletânea É isso mes...