Já faz algum tempo que acompanho quase diariamente
a página Jornal do Leitor, do jornal O
Povo online. Gosto de lê a última crônica publicada, as poesias e os
artigos de opinião. Mas ontem, quando acessei a página das crônicas, estava lá
o título: “Qual é o seu propósito?”. Cliquei sobre ele, mas nada de texto, além
dele mesmo. Comecei a pensar na hipótese de ter acontecido, na hora de
publicar, alguma falha técnica e somente o título foi postado. Até aí
tudo bem, é totalmente compreensivo.
Porém, depois de um tempo, comecei a considerar
que título e texto podiam ser a mesma coisa. Afinal, esse universo da
Literatura é muito versátil e inusitado.
Essa possibilidade me deixou bastante intrigado.
Não demorou muito, eu já me via mergulhado numa teia de indagações. Se
realmente o objetivo do texto (ou título) for nos provocar a refletir sobre a
questão do propósito, como responder a uma indagação dessa natureza? Antes de
clicar ali, tudo era mais simples. O meu propósito era somente lê a última crônica
publicada. Agora já nem sei mais se li uma crônica, ou se li apenas o título.
E se a pergunta sobre qual é o meu propósito - que
encima, encorpa e encerra o texto - não se referir a qualquer propósito; mas
tiver, para além disso, um caráter mais existencial, do tipo: “qual é o seu
propósito na vida? Se o autor quiser nos convencer do erro de Sartre em achar
que “todo ente nasce sem razão, se prolonga por fraqueza e morre por acaso”
(Náusea, p. 197). Se for ele uma pessoa de fé, que acredita, como disse alguém,
que “toda criança que nasce é sinal de que Deus ainda espera alguma coisa dos
homens”?
Pra encerrar esta conversa, quero dizer ao autor
anônimo que, se junto ao título devia ter sido publicado um texto, ao menos lhe
sirva de consolo o fato de que só o título já gerou uma crônica. Porém, se o
intento era provocar uma reflexão sobre o propósito como uma questão
fundamental para o ser humano, devo confessar ao autor da crônica, ou do título
ou da crônica-título: eu não sei ainda qual é o meu propósito, fico devendo a
resposta, como você ficou devendo o texto (ou não)!
Epitácio Rodrigues