sábado, 13 de fevereiro de 2016

QUESTÃO DE PROPÓSITO



Já faz algum tempo que acompanho quase diariamente a página Jornal do Leitor, do jornal O Povo online. Gosto de lê a última crônica publicada, as poesias e os artigos de opinião. Mas ontem, quando acessei a página das crônicas, estava lá o título: “Qual é o seu propósito?”. Cliquei sobre ele, mas nada de texto, além dele mesmo. Comecei a pensar na hipótese de ter acontecido, na hora de publicar, alguma falha técnica e somente o título foi postado.  Até aí tudo bem, é totalmente compreensivo.
Porém, depois de um tempo, comecei a considerar que título e texto podiam ser a mesma coisa. Afinal, esse universo da Literatura é muito versátil e inusitado.
Essa possibilidade me deixou bastante intrigado. Não demorou muito, eu já me via mergulhado numa teia de indagações. Se realmente o objetivo do texto (ou título) for nos provocar a refletir sobre a questão do propósito, como responder a uma indagação dessa natureza? Antes de clicar ali, tudo era mais simples. O meu propósito era somente lê a última crônica publicada. Agora já nem sei mais se li uma crônica, ou se li apenas o título.
E se a pergunta sobre qual é o meu propósito - que encima, encorpa e encerra o texto - não se referir a qualquer propósito; mas tiver, para além disso, um caráter mais existencial, do tipo: “qual é o seu propósito na vida? Se o autor quiser nos convencer do erro de Sartre em achar que “todo ente nasce sem razão, se prolonga por fraqueza e morre por acaso” (Náusea, p. 197). Se for ele uma pessoa de fé, que acredita, como disse alguém, que “toda criança que nasce é sinal de que Deus ainda espera alguma coisa dos homens”?
Pra encerrar esta conversa, quero dizer ao autor anônimo que, se junto ao título devia ter sido publicado um texto, ao menos lhe sirva de consolo o fato de que só o título já gerou uma crônica. Porém, se o intento era provocar uma reflexão sobre o propósito como uma questão fundamental para o ser humano, devo confessar ao autor da crônica, ou do título ou da crônica-título: eu não sei ainda qual é o meu propósito, fico devendo a resposta, como você ficou devendo o texto (ou não)!


Epitácio Rodrigues


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