Hoje vou escrever rapidamente
esta crônica. Pois tenho de acertar contas com amigo, melhor dizer ex-amigo.
Não sou de falar da minha vida, muito pior de me envolver em brigas, mas peço
que ouça a minha história e veja se não tenho razão.
Há uns seis meses atrás, disse a
um amigo que estava sem inspiração para escrever. Ele me aconselhou a frequentar
um bar muito famoso aqui da cidade.
- Ali não falta assunto. –
disse ele - quando o pessoal bebe, começa a falar e aparece cada história que lhe
faltará é tempo para escrever as crônicas que virão à mente a partir das
situações pitorescas dos frequentadores desse bar.
Em princípio, não me pareceu
uma ideia tão ruim. A única coisa que me incomodava era o fato de eu, até aquela
data, nunca ter ingerido uma gota de álcool. Assim mesmo, resolvi acompanhá-lo
ao bar.
No primeiro dia, ele sugeriu
logo.
- Para fazer amizade com o
pessoal, você chega lá pagando logo uma rodada de cana pra galera começar a
soltar a língua. Apesar da desconfiança em relação à proposta, resolvi concordar.
Dito e feito! Tão logo o pessoal começou a beber, surgiram as primeiras
histórias. Porém, o nível não estava muito bom.
Ouvi atentamente, mas resolvi apostar no dia
seguinte. O problema foi esse tal de dia seguinte.
Meses depois, minha esposa, começou a me questionar sobre os resultados desse projeto. Isso porque o meu salário estava ficando quase todo no bar. Com uma diferença: agora, além de pagar, eu bebia junto. As feiras, a mensalidade da escola das crianças e outros compromissos ficaram todos nas costas dela. Por causa de uma compra a prazo que fiz no comercio, meu nome foi parar no SPC (serviço de proteção de crédito).
Meses depois, minha esposa, começou a me questionar sobre os resultados desse projeto. Isso porque o meu salário estava ficando quase todo no bar. Com uma diferença: agora, além de pagar, eu bebia junto. As feiras, a mensalidade da escola das crianças e outros compromissos ficaram todos nas costas dela. Por causa de uma compra a prazo que fiz no comercio, meu nome foi parar no SPC (serviço de proteção de crédito).
Nos finais de
semana passava o dia praticamente inteiro no bar. A situação era tão sintomática que bastava
eu ir em direção à porta, pra meu filho perguntar:
- Já vai beber, de novo!?
Para me esquivar dessa e de outras cobranças
e reclamações tanto da esposa quanto das crianças, passei a sair do trabalho e ir direto
ao bar. Sinceramente, não entendia porque era tão difícil entender a
importância daquele bar para alavancar a minha carreira como escritor. Cansado dessa
situação, eu protelava a chegada em casa até a hora de dormir, assim
não tinha que ouvir cobranças.
Minha filha, além de, às
vezes, ir me buscar naquele ambiente, passou a odiar literatura, achando que os escritores são todos beberrões, pais negligentes e péssimos maridos.
Como já faz algumas semanas que
estou dormindo na garagem, ontem quando cheguei em casa não percebi nenhuma
movimentação.
- Já tão dormindo, melhor
assim! - Pensei.
Mas, ao acordar, minutos atrás, encontrei um bilhete educado:
“Eu e as crianças vamos passar uma temporada na casa dos meus pais, até
que essa situação se resolva.”
Então, após seis meses desde
que escrevi a última crônica, resolvi fazer um balanço do que mudou na minha
carreira de literato, depois da sugestão daquele meu amigo: em casa e no trabalho sou visto como um alcoólatra e irresponsável; no comércio local, ganhei a fama de caloteiro, e não tenho mais crédito algum; cansados de acreditar que eu ainda tinha jeito, minha família desistiu de mim jeito e
foi-se embora.
Sem o apoio da família, sem dinheiro, sem crédito, só agora percebo: a razão que me levou ao bar, e ao consequente desmantelo da minha
vida, não me trouxe nenhuma inspiração. pelo contrário, até parei de escrever, pois muito cedo descobri
que os pinguços frequentadores de bar contam sempre a mesma história, todos os dias e uma centena de vezes.
Então, caro leitor, depois de
lhe contar tudo isso, pergunto:
- Tenho ou não motivos para querer, depois de
escrever esta crônica, ir acertar as contas com esse meu ex-amigo?
Só espero que, chegando ao bar,
ele não me chame para beber uma antes.
Epitácio Rodrigues da Silva, 13/02/2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário