Era pra ser apenas mais
uma peregrinação pelos jornais online.
Queria saber como estava o cenário político, com essa crise gigantesca que se
revelou nos últimos tempos. Mas acabei me deparando com uma briga de egos e
vaidades de alguns propagandistas da direita ultra-conservadora. Um deles
acusava o outro de vendido à esquerda. A razão era simples. Depois que um
jornal divulgou uma conversa gravada entre dois envolvidos na crise, um
propagandista comentou que o diálogo entre os dois deixava claro que o
impeachment da presidenta Dilma foi um golpe. O outro, imediatamente, bradou aos
quatro ventos: “vendido!”
Confesso que achei
estranho o comentário do primeiro propagandista, mas fiquei preso mesmo foi à
explicação do seu acusador: “vendido!”
Só então me dei conta de que em muitos comentários, os defensores de uma política de direita usam essa
acusação. Se um jornalista, um artista, um colunista da mídia que está vinculada
até a alma com o projeto de direta destoa, já vem o ultimato: “vendido!!!”
Comecei a achar tudo muito parecido a uma simbiose de tribunal da inquisição
com leilão de opiniões. Com o mesmo martelo condenavam e arrematavam: “vendido
pra esquerda!”, “comprado pra esquerda!”.
Se o provérbio que diz “cada
um vê o mundo com os olhos que tem a da posição que está” for verdadeiro, é até
fácil entender esse comportamento da direita na política brasileira. Se pra
direita tudo é uma questão de mercado, as opiniões e pontos-de-vista também são
economicamente tutelados. Algo mais ou menos como: “diga o que quer que eu
pense e escreva e lhe direi o meu preço!” Considerar essa possibilidade me fez
lembrar uma imagem apresentada por Schopenhauer (A Arte de Escrever, p. 2012, 22), para quem alguns pensamentos são
como perucas, cuja relação com a cabeça é superficial, exterior e, por isso um
corpo estranho para quem a usa. Nada contra quem usa peruca, apenas contra quem
tem opinião e pontos-de-vista economicamente tutelados.
Mas não quero ser
injusto. Talvez nem todos aqueles que gritam “vendidos” usem de má-fé. Alguns deles
podem fazê-lo apenas por falta de argumento mesmo! Mas isso não melhora a
situação. Um pensamento comprado não merece credibilidade, porque o comprador é
quem determina qual e como deve ser a opinião. Mas, pensando bem, aquele
que chama outro de vendido porque não tem nada mais consistente para argumentar
é um sujeito de uma cabeça economicamente pobre de conhecimento. Talvez não tenho muito o que vender.
Nos dois casos, é
preciso que alguém lhes diga: algumas pessoas constroem seus pontos-de-vista a
partir de um esforço honesto de entendimento dos fatos. Só pra deixar claro, não
acredito que isso se aplique aos contendores as quais fiz vaga referência
acima.
Enfim, não sei se aos
propagandistas dessa direita brasileira - irônica, sarcástica e autoritária -
falta argumentos ou boa-fé. O que eu sei é que, vendidos ou comprados, dá no
mesmo: tudo tem cara de mercadoria ruim!
Epitácio
Rodrigues da Silva
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