quinta-feira, 11 de junho de 2015

A LEI ANTIFUMO E A CONSPIRAÇÃO


      São poucas as coisas neste mundo que eu não gosto, mas uma delas, com toda certeza, é a fumaça de cigarro. E para piorar as coisas, o meu olfato consegue sentir de longe esse cheiro desagradável e asfixiante.
      Por isso não vou negar: comemorei muito a aprovação da Lei Antifumo nº 12.546/2011, que proíbe o uso de cigarros em lugares públicos e também a campanha contra qualquer propa ganda propositiva a respeito do tabagismo. As campanhas são todas contra, inclusive nas embalagens do produto. O que dizer daquelas imagens nas caixas de cigarro? Lembro de uma que é um rosto feminimo deformado. Isso nenhuma mulher aguenta. Mas aquela destinha aos homens é bem pior: um homem despido respresentando um impotente sexual e um dedo polegar gigante apontado para baixo diante da sua região pubiana, que, mas do que esconder suas genitálias, é a reppresentaç~ao mais aterrozizante do imaginário masculino.
     A marcação é tão cerrada que as empresas de tabagismo têm que recorrer a estratégias como patrocínio de filmes de época para garantir a propaganda indireta: todos os atores aparecem fumando como um caipora.
     As razões para essa marcação contra o tabagismo, dizem, está relacionada aos diversos tipos de câncer aos quais o fumante passivo e ativo estão sujeitos. É uma questão de saúde pública, afirma-se. Mas, conversando esses dias como um amigo, fumante, que encontrei numa banca de revista, ele apresentou uma teoria bastante inusitada. Pra ele, isso tudo é uma conspiração feminina. Disse-me que quando era garoto - e os trintões e quarentões devem lembrar-se disso - conheceu vários casos de maridos que saíram à noite de casa para ir à budega da esquina comprar cigarro e nunca mais voltaram. A situação ficou tão séria que algumas mulheres não deixavam o cigarro do marido faltar para não correr o risco. Verdade seja dita - brincou - tinham aquelas esposas que faziam até promessa para o marido (encosto) ir comprar cigarro e errar o caminho de casa, mas esse tipo de pedido vai contra o Direito Canônico, que diz que o casamento é indissolúvel, então os santos não aceitavam a promessa.
     Olhe, continuou ele, essa nossa geração dos pós-fumantes está cheia de mulheres que cresceram sem a presença do pai e cientes de que foi por causa do cigarro. Então, foram elas que começaram a dizer que fumar era démodé, que não gostavam de beijar homem com hálito de cigarro, tiveram até aquelas ligadas à psicanálise espalhando por aí que o cigarro era um símbolo fálico e que colocar um cigarro na boca era a manifestação de um desejo erótico reprimido pela cultura... Mas o resultado dessas estratégias demorava muito a surtir efeito, então elas resolveram, unidas, apelar secretamente para as esposas dos parlamentares. Do dia para noite as mulheres dos deputados e senadores começaram a insistir pra que eles votassem essa lei Antifumo. No início, os parlamentares até ignoraram os pedidos, mas foram coagidos a votar porque elas começaram uma “greve de prazeres” e a se negavam a aparecer em públicos ao lado do marido. E como a sociedade brasileira ainda é muito conservadora, a imagem da família unida, feliz e perfeita é fundamental para um político angariar votos. Alguns políticos até resolveram o problema da “greve de prazeres” arrumando amantes, mas como não podiam levar suas amantes aos palanques como representantes das esposas, eles acabaram cedendo à pressão das suas mulheres. E foi assim que elas conseguiram aprovar essa lei.
     Quando esse amigo terminou de expor sua teoria de conspiração, comprou uma dessas revistas sensacionalistas, despediu-se e seguiu o seu caminho. Fiquei parado, pensando nessa teoria de conspiração. Tudo naquele discurso parecia muito bem arrumado e encaixado: será que houve mesmo uma conspiração? Inicialmente, fiquei muito inclinado concordar com ele, principalmente porque a Lei Antifumo foi sancionada depois que uma mulher assumia a presidência da República. Mas depois, percebi que para ele essa lei era uma coisa ruim, então comecei a desconfiar que podia também ser apenas mais uma conspiração masculina para justificar a corrupção política, culpabilizando as mulheres e repetindo, mais uma vez, aquela famosa tática em vigor desde o tempo de Adão: “a culpa é da mulher...” (Cf.Gn, 3, 12).
Epitácio Rodrigues da Silva
prof_epitacio@hotmail.com
Crônica publicada no Jornal O povo on line. Link: http://www.opovo.com.br/app/jornaldoleitor/noticiassecundarias/cronicas/2015/06/01/noticiajornaldoleitorcronicas,3447141/a-lei-antifumo-e-a-conspiracao.shtml e na página da Revista da Cultura on line. Link: http://www.revistadacultura.com.br/resultado/15-06-01/A_LEI_ANTIFUMO_E_A_CONSPIRA%C3%87%C3%83O.aspx

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