Hoje peguei
despretensiosamente o livro Nietzsche
para estressados, de Allan Percy, logo no primeiro capítulo estava
estampado o titulo “Quem tem razão de viver é capaz de suportar qualquer
coisa”. É claro, o texto que segue abaixo do título nada tem de Nietzsche, mas
de Viktor Frankl, na obra Em busca de
sentido, na qual narra sua vida de prisioneiro nos campos de concentração
nazista e a descoberta da Logoterapia (ou terapia pelo sentido), uma terapia
centrada na importância de se encontrar um sentido para a vida como caminho
para superar as adversidades e os traumas.
Era para ser uma
leitura descontraída, mas a breve referência a Viktor Frankl me fez lembrar as
páginas do seu livro, nas quais descreve as condições subumanas que viviam as
pessoas e das passagens que fala do amor à esposa como razão para continuar
vivo. Depois que se lê aquele livro, soa como “discurso menor” ouvir alguém, em
condições normais, queixar-se que sua vida não tem sentido. Concordo plenamente!
A vida humana não tem sentido mesmo! Por isso ela é tão especial. Viver é uma
experiência aberta. Estar vivo, de forma consciente e livre, como é o nosso
caso, implica ter a responsabilidade de construir o sentido para a sua própria existência.
Gosto do jeito que o filósofo cearense Manfredo Oliveira, num livro intitulado Sobre a Fundamentação, diz essa verdade:
“O homem é uma questão, porque ele não é simplesmente, mas se experimenta como
tendo que conquistar seu próprio ser. Sua especificidade é a indeterminação
originária: nem os instintos, nem suas próprias instituições conseguem
determiná-lo de forma definitiva”. Não determinado de antemão em seu ser, ele
tem que tomar decisões sobre a sua própria vida, sobre o rumo da sua
existência. É nessa luta contra a natureza, que vamos abrindo a clareira do
mundo humano, lugar de construção do sentido da nossa existência individual e
coletiva.
Existo! A vida
pulsa em mim! Agora o sentido que darei a isso, a finalidade ou destinação não
me é dado a priori. É uma tarefa que,
realizando-a, realizo-me. Se parecer absurdo nascer, crescer, reproduzir e
morrer, a minha existência não precisa ser somente isso. Existir é estar
lançado num universo de possibilidades, das quais sou impelido a escolher
algumas, descartar outras e sem a certeza de que estou fazendo a escolha certa.
Existir é uma construção de si, na qual se tem sempre a possibilidade de
falhar. “O homem é um ser de risco: ele pode não realizar seu ser”, lembra Manfredo.
Por isso, a pessoa humana possui a capacidade de fazer antecipações racionais
das consequências e riscos das escolhas, ponderar as possibilidades antes de
decidir, rever as escolhas e os caminhos, mudar o rumo da sua vida e da sua
história.
A vida não tem
sentido porque é nossa tarefa maior construí-lo. Por isso, quando alguém me diz
que a sua vida não tem sentido, não será grosseira dizer-lhe com toda boa
educação: se sua vida não tem sentido, de certo modo, o problema é seu.
Epitácio Rodrigues, 08,02, 2015.
(Crônica publicada no Jornal O Povo On line, link: http://www.opovo.com.br/app/jornaldoleitor/noticiassecundarias/cronicas/2015/02/23/noticiajornaldoleitorcronicas,3397039/um-sentido-para-viver.shtml > e na Revista da Cultura, link < http://www.revistadacultura.com.br/resultado/15-02-23/UM_SENTIDO_PARA_VIVER.aspx >. E postada também pelos redatores do interjornal AchixClip, link: < http://www.achixclip.com.br/noticia/31795315/ultimas-noticias/um-sentido-para-viver/.>
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