A
PRINCESA E O SAPO.
Uma princesa mimada brincava com
sua bola perto de um lago. A bola foi parar no meio das águas. Um sapo, que
estava perto, disse que a buscaria, mas para isso queria uma recompensa. Presunçosa,
a princesa respondeu:
– Meu pai é o rei. Que pode querer
uma criatura que nem você que ele não consiga dar?
O sapo pegou a bola e, quando fez o
seu pedido, quase que a princesa morre:
– Quero me casar com você.
Não teve outro jeito, pois palavra
de rei e de princesa não volta atrás.
Na hora do casamento, quando os
noivos finalmente se beijam, acontece algo surpreendente: o sapo
transforma-se... numa linda princesa.
– Você é mulher! – disse a princesa
mimada. – Mas todos nós pensávamos que você fosse um sapo.
– Eu queria que pensassem assim,
por isso eu engrossava a voz e mijava em pé. Mas e aí, tem algum problema o
nosso casamento? – pergunta a princesa que era sapo, aliás, perereca.
– Claro que não. Palavra de rei e
princesa não volta atrás! – responde a princesa mimada com um sorriso
melindroso.
O casamento prossegue e elas...
foram vivendo. Quem no reino não
gostasse ou olhasse torto para as duas ou reprovasse a sua união era processado,
podendo ir parar na masmorra.
CHAPEUZINHO
VERMELHO.
No célebre diálogo, um momento de
suspense.
– Vovó, que boca grande a senhora
tem.
– Essa boca tão grande é para
melhor te devorar, mas eu não posso fazer isso. –responde o Lobo, sua voz hesitando.
– Eu preciso te contar toda a verdade.
Pausa dramática. Acaba o episódio.
O publico fica chateado, pois é dia de sábado e tem que esperar segunda feira.
Segunda. Repete-se a cena. Momento
de tensão.
– Eu não posso te devorar,
Chapeuzinho Vermelho, e eu não posso mais fugir da verdade.
Momento de revelação.
– Chapeuzinho, eu sou seu pai!
– Você o que? – fala e lágrimas
escorrem dos seus olhos.
– Eu sou seu pai, Chapeuzinho. Eu
devorei a sua vó...
– Você o que? – grita histérica.
– Eu devorei a sua vó, mas, calma,
vi que ali na cozinha tem um laxante e eu vou... – o Lobo não consegue
continuar, pois se assusta com o aspecto sinistro de Chapeuzinho. Ela segura
uma faca muito afiada.
– Chapeuzinho, o que foi? Eu disse
que sou seu pai.
– Você matou a minha vó.
Chapeuzinho vai avançando para cima
do Lobo, que tenta recuar, mas tropeça e cai.
– Chapeuzinho, o que está fazendo?
O que você quer? Vingança?
– Que #$%*@ de vingança, o quê? Eu
quero é a herança da velha.
Chapeuzinho ergue a faca.
– Chapeuzinho, você não pode fazer
isso comigo, eu sou seu pai. – fala chorando desesperado o Lobo.
– Se o Lobo Mau é meu pai, então eu
sou a filha MÁ.
Chapeuzinho ataca o Lobo. A câmera
dá um close na faca e é possível ver um líquido escarlate como o seu chapéu
sujando a lâmina afiada. O close agora é na cara de Chapeuzinho que diz:
– Não vou dividir a herança com
ninguém.
A história avança para alguns meses.
Chapeuzinho tornou-se muito rica devido à herança que recebeu. Sua mãe “misteriosamente”
morreu, após cair da escada. As pessoas da vila estranharam duas coisas: como a
mãe de Chapeuzinho caiu da escada se na casa dela não tinha escada? Por que Chapeuzinho
foi ao enterro com o chapéu vermelho e não preto? Embora questionassem, ninguém
suspeita de nada. Então surge na trama a figura do Caçador, que ouviu toda a
conversa entre Chapeuzinho Vermelho e o Lobo e sabe toda a verdade. Ele irá fazer
justiça e a todo custo vai chantagear Chapeuzinho, pois tudo o que quer é
enriquecer.
BRANCA DE PÓ E OS SETE ANÕES.
Branca de Pó, viciada no que lhe dá
o apelido, está escondida numa boca de fumo chefiada por sete anões, todos
parentes do Zé Pequeno.
A Rainha Malvada acaba de sair da
malhação e dirigi-se ao Espelho Mágico.
– Espelho, espelho meu, existe
bumbum mais empinado que o meu? Existe peito mais durinho que o meu? Existe
perna mais malhada e sem estrias que a minha?
O Espelho é franco e direto.
– É claro, né?
– Raios! Já sei até quem é! É
aquele aspirador albino, a Branca de Pó. Acertei?
– Sim e não.
– ???
– A lista é imensa e está em
constante atualização.
– Está dizendo que existem muitas
mulheres que nasceram com o corpo mais perfeito que o meu?
– Que nasceram, não! Mas a senhora
já ouviu falar em cirurgia plástica? Botox? Silicone? Pois é, hoje se operam
milagres com um bisturi.
O
PATINHO FEIO
Então, aquele Patinho Feio e rejeitado
cresceu e tornou-se um lindo, forte e distinto animal. O Patinho Feio virou...
uma Gazela.
– Uma Gazela? Que coisa! Por que eu
não virei um cisne? E como eu posso ser um mamífero e ter quatro patas, se eu
nasci de um ovo, tinha bico e tinha asas? – reclamou a agora Gazela, vítima
desses deslizes e furos do roteiro.
Com o tempo, a Gazelinha Linda foi
se acostumando, ganhando confiança, sua pele de cor rosa e púrpura foi se
destacando, chamando atenção e arrasando, e ela a-do-rou!
***
Próximos
lançamentos dessa coleção:
Joãozinho e Mário; O Gato de Botinhas com Salto; João
e o Pé de Cannabis.
João Paulo DiCarvalho
Crônica publicada na Revista da Cultura. Link:http://www.revistadacultura.com.br/resultado/15-05-11/SE_OS_CONTOS_INFANTIS_VIRASSEM_NOVELA_DAS_NOVE.aspx
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