segunda-feira, 11 de maio de 2015

SE OS CONTOS INFANTIS VIRASSEM NOVELA DAS NOVE



A PRINCESA E O SAPO.

Uma princesa mimada brincava com sua bola perto de um lago. A bola foi parar no meio das águas. Um sapo, que estava perto, disse que a buscaria, mas para isso queria uma recompensa. Presunçosa, a princesa respondeu:
– Meu pai é o rei. Que pode querer uma criatura que nem você que ele não consiga dar?
O sapo pegou a bola e, quando fez o seu pedido, quase que a princesa morre:
– Quero me casar com você.
Não teve outro jeito, pois palavra de rei e de princesa não volta atrás.
Na hora do casamento, quando os noivos finalmente se beijam, acontece algo surpreendente: o sapo transforma-se... numa linda princesa.
– Você é mulher! – disse a princesa mimada. – Mas todos nós pensávamos que você fosse um sapo.
– Eu queria que pensassem assim, por isso eu engrossava a voz e mijava em pé. Mas e aí, tem algum problema o nosso casamento? – pergunta a princesa que era sapo, aliás, perereca.
– Claro que não. Palavra de rei e princesa não volta atrás! – responde a princesa mimada com um sorriso melindroso.
O casamento prossegue e elas... foram vivendo.  Quem no reino não gostasse ou olhasse torto para as duas ou reprovasse a sua união era processado, podendo ir parar na masmorra.

CHAPEUZINHO VERMELHO.

No célebre diálogo, um momento de suspense.
– Vovó, que boca grande a senhora tem.
– Essa boca tão grande é para melhor te devorar, mas eu não posso fazer isso. –responde o Lobo, sua voz hesitando. – Eu preciso te contar toda a verdade.
Pausa dramática. Acaba o episódio. O publico fica chateado, pois é dia de sábado e tem que esperar segunda feira.
Segunda. Repete-se a cena. Momento de tensão.
– Eu não posso te devorar, Chapeuzinho Vermelho, e eu não posso mais fugir da verdade.
Momento de revelação.
– Chapeuzinho, eu sou seu pai!
– Você o que? – fala e lágrimas escorrem dos seus olhos.
– Eu sou seu pai, Chapeuzinho. Eu devorei a sua vó...
– Você o que? – grita histérica.
– Eu devorei a sua vó, mas, calma, vi que ali na cozinha tem um laxante e eu vou... – o Lobo não consegue continuar, pois se assusta com o aspecto sinistro de Chapeuzinho. Ela segura uma faca muito afiada.
– Chapeuzinho, o que foi? Eu disse que sou seu pai.
– Você matou a minha vó.
Chapeuzinho vai avançando para cima do Lobo, que tenta recuar, mas tropeça e cai.
– Chapeuzinho, o que está fazendo? O que você quer? Vingança?
– Que #$%*@ de vingança, o quê? Eu quero é a herança da velha.
Chapeuzinho ergue a faca.
– Chapeuzinho, você não pode fazer isso comigo, eu sou seu pai. – fala chorando desesperado o Lobo.
– Se o Lobo Mau é meu pai, então eu sou a filha MÁ.
Chapeuzinho ataca o Lobo. A câmera dá um close na faca e é possível ver um líquido escarlate como o seu chapéu sujando a lâmina afiada. O close agora é na cara de Chapeuzinho que diz:
– Não vou dividir a herança com ninguém.
A história avança para alguns meses. Chapeuzinho tornou-se muito rica devido à herança que recebeu. Sua mãe “misteriosamente” morreu, após cair da escada. As pessoas da vila estranharam duas coisas: como a mãe de Chapeuzinho caiu da escada se na casa dela não tinha escada? Por que Chapeuzinho foi ao enterro com o chapéu vermelho e não preto? Embora questionassem, ninguém suspeita de nada. Então surge na trama a figura do Caçador, que ouviu toda a conversa entre Chapeuzinho Vermelho e o Lobo e sabe toda a verdade. Ele irá fazer justiça e a todo custo vai chantagear Chapeuzinho, pois tudo o que quer é enriquecer.

BRANCA DE PÓ E OS SETE ANÕES.
Branca de Pó, viciada no que lhe dá o apelido, está escondida numa boca de fumo chefiada por sete anões, todos parentes do Zé Pequeno.
A Rainha Malvada acaba de sair da malhação e dirigi-se ao Espelho Mágico.
– Espelho, espelho meu, existe bumbum mais empinado que o meu? Existe peito mais durinho que o meu? Existe perna mais malhada e sem estrias que a minha?
O Espelho é franco e direto.
– É claro, né?
– Raios! Já sei até quem é! É aquele aspirador albino, a Branca de Pó. Acertei?
– Sim e não.
– ???
– A lista é imensa e está em constante atualização.
– Está dizendo que existem muitas mulheres que nasceram com o corpo mais perfeito que o meu?
– Que nasceram, não! Mas a senhora já ouviu falar em cirurgia plástica? Botox? Silicone? Pois é, hoje se operam milagres com um bisturi.

O PATINHO FEIO

Então, aquele Patinho Feio e rejeitado cresceu e tornou-se um lindo, forte e distinto animal. O Patinho Feio virou... uma Gazela.
– Uma Gazela? Que coisa! Por que eu não virei um cisne? E como eu posso ser um mamífero e ter quatro patas, se eu nasci de um ovo, tinha bico e tinha asas? – reclamou a agora Gazela, vítima desses deslizes e furos do roteiro.
Com o tempo, a Gazelinha Linda foi se acostumando, ganhando confiança, sua pele de cor rosa e púrpura foi se destacando, chamando atenção e arrasando, e ela a-do-rou!

***

Próximos lançamentos dessa coleção:

Joãozinho e Mário; O Gato de Botinhas com Salto; João e o Pé de Cannabis.
João Paulo DiCarvalho

Crônica publicada na Revista da Cultura. Link:http://www.revistadacultura.com.br/resultado/15-05-11/SE_OS_CONTOS_INFANTIS_VIRASSEM_NOVELA_DAS_NOVE.aspx

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