Parece
que no Brasil está virando uma prática anual sair às ruas para fazer
reivindicações e protestos. Já estive nas ruas em movimentos paredistas, mas
ainda não participei dessa nova modalidade de ocupação maciça das ruas. Nos
últimos dias tenho refletido sobre a possibilidade de também sair às ruas,
nesse sentido rascunhei algumas regras, como projeto norteador desse meu
exercício da cidadania.
Penso
que quando for às ruas protestar e fazer reivindicações não usarei camisas com
as cores verde e amarelo, pois quero ser levado a sério e não ser confundido
com um torcedor da “seleção canarinha”, como era chamada a seleção brasileira
de futebol: um discurso que respaldava a ideologia do verdeamarelismo arcaico e
alienado.
Quando
eu for às ruas protestar, não levarei cartazes com frases e palavras de ordem
como “fora”, “fim da corrupção” e afirmações do gênero. Quero deixar claro que
possuo um entendimento bem concreto a respeito do que estou reivindicando.
Problemas especificamente colocados e propostas claramente aplicáveis. Vi num
certo protesto a frase: “menos corrupção e mais saúde”. Pareceu-me uma
legitimação da corrupção, só que em escala menor e saúde ofertada em escala
maior.
Quando
esse dia chegar, não quero ir às ruas como parte de uma massa anônima,
convocada, via redes sociais, por grupos ou movimentos cujas bandeiras
ideológicas não me pareçam suficientemente claras. Quero saber quem são os
articuladores, seus reais objetivos – os explícitos e até os escusos, caso
haja; Não quero ignorar também quem são os patrocinadores, pois estou
convencido que protestar tem um ônus econômico. Como em política não há
bondade, imagino que aquele que paga a conta quer o produto.
Quando
eu for às ruas protestar, não irei às praças e aos pontos turísticos mais
importantes. Não quero que meu protesto se pareça um evento de marketing da
cidade. Também não irei à avenida principal gritar, “panelar” ou quebrar as
vitrines de lojas das quais jamais serei cliente ou de instituições públicas.
Meu projeto de percurso é na direção da sede do poder executivo, do poder
legislativo e provavelmente do judiciário. O propósito será reivindicar uma
audiência com os representantes do poder político na qual possa exigir e propor
ações que tenham uma incidência positiva nas ações políticas voltadas ao bem
comum.
Quando
estiver nas ruas, terei muito cuidado com a força física e repressora do Estado
e com a força ideológica e manipuladora das mídias, pois a caneta do editor é
tão implacável quanto as bombas de efeito moral. Ambas agridem e afetam a visão
e invertem as razões dos fatos: transformam cidadãos em bandidos e etc...
Já
que, para muitos setores da sociedade, o mais importante em um protesto é a
quantidade de pessoas aglomeradas e não os projetos defendidos, penso que
quando eu for às ruas protestar, muito provavelmente irei sozinho.
Epitácio
Rodrigues da Silva
prof_epitacio@hotmail.com
(Crônica publicada na Revista da Cultura on line.
Link: http://www.revistadacultura.com.br/resultado/15-03-20/QUANDO_EU_FOR_%C3%80S_RUAS_PROTESTAR.aspx e no Jornal O Povo on line. link: http://www.opovo.com.br/app/jornaldoleitor/noticiassecundarias/artigos/2015/03/20/noticiajornaldoleitorartigos,3410374/quando-eu-for-as-ruas-protestar.shtml. )
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