O ano era de 2001, o mais querido rubro-negro da terra e
acho até que do universo, acabara de se tornar tricampeão carioca
em cima do arquirrival CRVG. Por uma questão de princípios vamos
colocar apenas a sigla. Fato esse que deu origem a várias piadinhas
muito engraçadas e criativas. Mas nossa história não se trata de
uma piada, aliás, trata-se de coisa muito séria. O próprio Código
Civil traz a seguinte redação em seu artigo 16: “Toda pessoa tem
direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome.”
Verdade é que houve piadas e muitas, tudo bem que o adversário deu
margem para que isso acontecesse, nesse mesmo jogo em que o Mengão
se sagrara tricampeão, o nosso rival também conseguira ser tri, a
diferença é que tri vice campeão não é coisa de se comemorar,
talvez na Europa, quem sabe. Pior, tri vice em cima do Flamengo, ou
embaixo, como queiram! Mas se o que está ruim pode piorar, o que
está pior pode ficar pior ainda, nestes três vice campeonatos o
time da colina teve como algoz o grande Rubro Negro, foram três anos
consecutivos tendo que aceitar as nossas gozações.
Pois bem! Enquanto no mundo inteiro, milhões
comemoravam o título e tripudiavam os bacalhaus. Em um certo bairro
de uma importante cidade no interior do grande estado do Ceará, um
casal enfrentava sua primeira crise conjugal fruto de uma divergência
de opiniões. Explico, Não obstante omita os nomes dos pecadores,
direi o pecado: O casal esperava o nascimento de seu primeiro filho,
e ainda não haviam decidido que nome dariam ao primogênito. Vários
nomes entraram na lista. Ela, de família de tradição católica
muito comum no interior do Ceará, dava preferência a nomes de
santos: Francisco, José, João foram citados mas excluídos por
serem muito comuns. Matheus, Lucas, Marcos, nomes de santos
evangelistas estavam na disputa por parte da esposa.
Ele, flamenguista doente. Vasculhava nas escalações
das grandes formações do mais querido nomes para seu rebento. Zico,
embora gozasse de grande prestígio com nosso amigo, por ser o grande
ídolo da nação rubro-negra, fora descartado. Tratava-se de um
apelido, e sua senhora não permitiria. Mas Arthur poderia! Pensava
ele. Além desse nome, a lista ainda continha nomes como Adílio,
Junior, por que não o nome do pai? Pensava como se dissesse a
mulher. Sávio também era um forte na disputa mas não tanto como
Rondinelli deus da raça rubro-negra.
A discussão já durara algumas semanas e o dia do parto
se aproximava. O casal oscilava entre conversas mais contidas e
discussões mais exacerbadas. Porém, um fato pôs fim a questão. O
pai da esposa de nosso orgulhosos flamenguista, o sogrão, também
rubro-negro, falecera em certa tarde vítima de mal súbito. A
comoção e a dor da perda mexeu com a mulher que num gesto de
gratidão ao pai falecido, resolvera colocar no garoto a nascer o
nome do avô. Expedito Domingos Dias Neto, esse seria o nome do novo
torcedor do mais querido. A decisão foi acatada pelo esposo que
também gostava muito do sogro e não ia contrariar a esposa que
sofria.
Era uma tarde de domingo e o time da cruz de malta tinha
a vantagem de poder perder por um gol de diferença, já que numa
partida de muita sorte no domingo anterior havia vencido por 2x1.
Pois bem, O Capetinha Edilson abriu o placar e acendeu as esperanças
rubro-negras, mas antes que terminasse a primeira etapa, eles
empataram. No intervalo nosso personagem faz suas orações de
costume e entre os seus balbucios, parece que ele tem uma carta na
manga. Segundo tempo, jogo pegado, enquanto o mais querido ataca
acaba se expondo e o adversário explora os contra-ataques. Lá atrás
Júlio César se garante e fecha o gol. O futuro papai rói as unhas,
bates os joelhos um no outro com ímpeto.
Empurrado pela grande massa, o Mengão chega ao segundo
gol com o capetinha Edilson novamente. A festa das arquibancadas
parece sacudir a sala de nosso herói que grita num frenesi como se
já tivesse ganhado o título. Jogo que segue, angústia que toma
conta do nosso amigo. Apreensão na sala, novos balbucios por parte
do futuro papai. A essa altura, quarenta do segundo tempo, a angústia
toma conta da sala e do nosso camarada. O que ele não faria por mais
um gol do Mais querido? De repente entre orações e pragas surge,
aos quarenta e três minutos uma falta.
Se por um lado, Petkovic é o batedor, por outro, a
distância não é das melhores. Figa nas mãos e nos pés, dá-se um
jeito. A precisão com que Petkovic bateu aquela falta foi tamanha e
tão decisiva não apenas para a conquista do título de Tricampeão
carioca, mas para a própria vida do nosso Flamenguista. Gritos de é
tricampeão ecoavam na sala! Na rua, fogos e gritaria! De repente o
anúncio de algo silenciador: Meu filho vai se chamar petkovic!!! Ao
ouvi-lo, a mulher corre para o quarto. Ele a segue e explica que fez
uma promessa para São Judas Tadeu, padroeiro do Flamengo. - Se
fizéssemos o terceiro gol eu colocaria no meu filho o nome de quem
fizesse o gol. Alegou que não poderia trair o santo. Emendou com a
história de que a ideia de meter santo em nome de filhos era da
mulher. Ao que a mulher contesta: - Onde é que tem santo ai nesse
nome!?
Após alguns minutos de conversa em tom de discussão, a
esposa começa a chorar e entre soluços e lágrimas diz: - E o meu
pai? Prometi colocar o nome dele na criança!
O esposo lembra sim, diz que até concordou. Quando tudo
parecia caminhar para um impasse ele com cara de quem solucionou o
problema da fome e das guerras no mundo diz em tom sério, enérgico
e decidido: Meu filho se chamará Expeditovik Domingos Dias. E saiu
aos gritos: É tricampeão! Tricampeão!!!
Francinaldo Silva Dias
(Crônica publicada no Jornal O Povo on line. Link:
www.opovo.com.br/app/jornaldoleitor/noticiassecundarias/cronicas/2015/01/19/noticiajornaldoleitorcronicas3379439/uma-saida-perfeita.shtml
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