segunda-feira, 16 de março de 2015

UMA SAÍDA PERFEITA


O ano era de 2001, o mais querido rubro-negro da terra e acho até que do universo, acabara de se tornar tricampeão carioca em cima do arquirrival CRVG. Por uma questão de princípios vamos colocar apenas a sigla. Fato esse que deu origem a várias piadinhas muito engraçadas e criativas. Mas nossa história não se trata de uma piada, aliás, trata-se de coisa muito séria. O próprio Código Civil traz a seguinte redação em seu artigo 16: “Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome.” Verdade é que houve piadas e muitas, tudo bem que o adversário deu margem para que isso acontecesse, nesse mesmo jogo em que o Mengão se sagrara tricampeão, o nosso rival também conseguira ser tri, a diferença é que tri vice campeão não é coisa de se comemorar, talvez na Europa, quem sabe. Pior, tri vice em cima do Flamengo, ou embaixo, como queiram! Mas se o que está ruim pode piorar, o que está pior pode ficar pior ainda, nestes três vice campeonatos o time da colina teve como algoz o grande Rubro Negro, foram três anos consecutivos tendo que aceitar as nossas gozações.
Pois bem! Enquanto no mundo inteiro, milhões comemoravam o título e tripudiavam os bacalhaus. Em um certo bairro de uma importante cidade no interior do grande estado do Ceará, um casal enfrentava sua primeira crise conjugal fruto de uma divergência de opiniões. Explico, Não obstante omita os nomes dos pecadores, direi o pecado: O casal esperava o nascimento de seu primeiro filho, e ainda não haviam decidido que nome dariam ao primogênito. Vários nomes entraram na lista. Ela, de família de tradição católica muito comum no interior do Ceará, dava preferência a nomes de santos: Francisco, José, João foram citados mas excluídos por serem muito comuns. Matheus, Lucas, Marcos, nomes de santos evangelistas estavam na disputa por parte da esposa.
Ele, flamenguista doente. Vasculhava nas escalações das grandes formações do mais querido nomes para seu rebento. Zico, embora gozasse de grande prestígio com nosso amigo, por ser o grande ídolo da nação rubro-negra, fora descartado. Tratava-se de um apelido, e sua senhora não permitiria. Mas Arthur poderia! Pensava ele. Além desse nome, a lista ainda continha nomes como Adílio, Junior, por que não o nome do pai? Pensava como se dissesse a mulher. Sávio também era um forte na disputa mas não tanto como Rondinelli deus da raça rubro-negra.
A discussão já durara algumas semanas e o dia do parto se aproximava. O casal oscilava entre conversas mais contidas e discussões mais exacerbadas. Porém, um fato pôs fim a questão. O pai da esposa de nosso orgulhosos flamenguista, o sogrão, também rubro-negro, falecera em certa tarde vítima de mal súbito. A comoção e a dor da perda mexeu com a mulher que num gesto de gratidão ao pai falecido, resolvera colocar no garoto a nascer o nome do avô. Expedito Domingos Dias Neto, esse seria o nome do novo torcedor do mais querido. A decisão foi acatada pelo esposo que também gostava muito do sogro e não ia contrariar a esposa que sofria.
Era uma tarde de domingo e o time da cruz de malta tinha a vantagem de poder perder por um gol de diferença, já que numa partida de muita sorte no domingo anterior havia vencido por 2x1. Pois bem, O Capetinha Edilson abriu o placar e acendeu as esperanças rubro-negras, mas antes que terminasse a primeira etapa, eles empataram. No intervalo nosso personagem faz suas orações de costume e entre os seus balbucios, parece que ele tem uma carta na manga. Segundo tempo, jogo pegado, enquanto o mais querido ataca acaba se expondo e o adversário explora os contra-ataques. Lá atrás Júlio César se garante e fecha o gol. O futuro papai rói as unhas, bates os joelhos um no outro com ímpeto.
Empurrado pela grande massa, o Mengão chega ao segundo gol com o capetinha Edilson novamente. A festa das arquibancadas parece sacudir a sala de nosso herói que grita num frenesi como se já tivesse ganhado o título. Jogo que segue, angústia que toma conta do nosso amigo. Apreensão na sala, novos balbucios por parte do futuro papai. A essa altura, quarenta do segundo tempo, a angústia toma conta da sala e do nosso camarada. O que ele não faria por mais um gol do Mais querido? De repente entre orações e pragas surge, aos quarenta e três minutos uma falta.
Se por um lado, Petkovic é o batedor, por outro, a distância não é das melhores. Figa nas mãos e nos pés, dá-se um jeito. A precisão com que Petkovic bateu aquela falta foi tamanha e tão decisiva não apenas para a conquista do título de Tricampeão carioca, mas para a própria vida do nosso Flamenguista. Gritos de é tricampeão ecoavam na sala! Na rua, fogos e gritaria! De repente o anúncio de algo silenciador: Meu filho vai se chamar petkovic!!! Ao ouvi-lo, a mulher corre para o quarto. Ele a segue e explica que fez uma promessa para São Judas Tadeu, padroeiro do Flamengo. - Se fizéssemos o terceiro gol eu colocaria no meu filho o nome de quem fizesse o gol. Alegou que não poderia trair o santo. Emendou com a história de que a ideia de meter santo em nome de filhos era da mulher. Ao que a mulher contesta: - Onde é que tem santo ai nesse nome!?
Após alguns minutos de conversa em tom de discussão, a esposa começa a chorar e entre soluços e lágrimas diz: - E o meu pai? Prometi colocar o nome dele na criança!
O esposo lembra sim, diz que até concordou. Quando tudo parecia caminhar para um impasse ele com cara de quem solucionou o problema da fome e das guerras no mundo diz em tom sério, enérgico e decidido: Meu filho se chamará Expeditovik Domingos Dias. E saiu aos gritos: É tricampeão! Tricampeão!!!
Francinaldo Silva Dias
(Crônica publicada no Jornal O Povo on line. Link: 
www.opovo.com.br/app/jornaldoleitor/noticiassecundarias/cronicas/2015/01/19/noticiajornaldoleitorcronicas3379439/uma-saida-perfeita.shtml

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